Muito benéficos, de rejuvenescimento e revitalização geral. Sentem-se fisicamente mais dispostos e ativos, há uma perceptível melhora no humor e no emocional de modo geral. Como consequência, a saúde geral é beneficiada e há aumento na auto-estima.
A que preconceitos está ligada a ideia de que namoro e outras formas de relacionamento amoroso não são “coisa de idosos”?
A crenças estereotipadas, dos mais jovens, que não entendem ainda que o idoso é o futuro de todos que não morrem cedo, não é uma categoria diferente, um ser à parte. E causa estranheza dois idosos namorando por que é menos comum até agora, acredito. Tem sido na juventude que geralmente se escolhem os parceiros e, como a sociedade é convencionalmente monogâmica, o mais usual até há pouco tem sido que as pessoas sigam adiante com quem escolheu na juventude. Esse cenário vem mudando devido, principalmente, ao aumento na expectativa de vida e ao crescente número de divórcios nas diversas faixas etárias.
É certo dizer que alguns idosos temem se relacionar na terceira idade? A que este receio pode estar relacionado?
Sim. Há fatores específicos, ligados ao tipo de personalidade e história de vida de cada um, mas observam-se também alguns de ocorrência mais genérica. Dentre os últimos, destacam-se algumas doenças crônicas limitantes, o medo de não ser suficientemente atraente para o parceiro por já não ter o corpo jovem, dificuldade ou medo de não conseguir uma boa performance sexual, medo de que os filhos ou parentes próximos não aceitem o novo relacionamento, etc.
Dependendo da idade do casal, um dos receios pode ser que o(a) parceiro (a) faleça. Como contornar isso?
Penso que essa preocupação não está ligada aos relacionamentos iniciados na terceira idade. Ao contrário, com a maturidade vai se aprendendo que viver o presente intensamente é a melhor forma de ter felicidade, de modo que um novo relacionamento traz a pessoa para a vida, não para o medo. Por outro lado, o excessivo medo da morte é algo que precisa ser trabalhado, pois é perturbador e completamente inútil. A morte é certa e, em algum momento, teremos que enfrentá-la, a do nosso parceiro, amigos e parentes e mesmo a ideia de nossa própria morte.
Como a fisiologia e algumas limitações corporais interferem no relacionamento amoroso?
De várias maneiras, mas mais em função da capacidade de adaptação de cada um. Ao envelhecer, a pessoa pode ir aprendendo a modificar sua atuação para fazer frente a algumas limitações que vão se instalando. Por exemplo, vai deixando de praticar atividades de alto impacto para poupar suas articulações e/ou densidade óssea, que já não tem a qualidade nem a força que tem a de um jovem. Isso vale para correr, saltar, dançar, etc.. No entanto, trata-se de atenuar o impacto e não de abandonar a atividade. Faz-se uma caminhada acelerada, ao invés de correr, dança-se sem grandes proezas, etc. O lazer e o próprio relacionamento amoroso, embora possam parecer limitados aos olhos de um jovem, podem ser vividos alegre e intensamente pela pessoa idosa.
Como costuma ser a redescoberta da sexualidade na terceira idade? Que benefícios isso traz?
Ela acontece quando um novo relacionamento ocorre nessa fase da vida, da mesma forma que um novo relacionamento em qualquer idade desvela um outro jeito de amar, já que não somos os mesmos em cada relação. Cada encontro amoroso é sempre único e isso vale também na idade avançada. A diferença é que, na terceira idade, as pessoas costumam estar mais seguras de si em vários aspectos, mais libertas de tabus e idealizações e, portanto, mais capazes de entregar-se à experiência sensorial em si. Por isso, a sexualidade é vivida mais plenamente quando um novo relacionamento amoroso acontece nessa fase da vida, ainda que a performance sexual masculina não seja igual à da juventude. Claro, se e quando os parceiros apresentam saúde e capacidade mínima de atividades funcionais.
Qual é a vantagem de começar um (novo) relacionamento amoroso na terceira idade?
Penso que a vantagem e os riscos são basicamente os mesmos de se iniciar um relacionamento amoroso em qualquer idade, exceto, talvez, a interferência de familiares, que costuma ser mais frequente nessa faixa etária – filhos e agregados costumam opinar e dar-se o direito de julgar se aquela relação é boa ou não, se o(a) parceiro gosta mesmo do outro ou se interessa-se apenas financeiramente, etc..
Namorar na terceira idade é bom em todos os sentidos: revigora, embeleza, motiva, envaidece, aumenta a auto-estima e o desejo de cuidar-se para si mesmo e para o outro; deixa a vida mais leve e alegre. E como o idoso pode dispor de mais autonomia e consciência, livre das preocupações, medos e inseguranças da juventude, consegue entregar-se mais inteiramente no relacionamento.
Se o (a) idoso (a) tem família (filhos, netos, etc. ), como costuma ser a relação do (a) parceiro (a) com os familiares?
Há vários tipos de reações a essa situação, mas o que podemos ter em mente como regra geral é: um jovem sensato tenderá a tornar-se um idoso ponderado e a formar relacionamentos saudáveis e construtivos, isto é, seguirá fazendo o que sempre fez na vida, inclusive escolhendo parceiros que agreguem e, portanto, estabeleçam relacionamento harmonioso com a nova família. E o outro extremo é igualmente verdadeiro: um pessoa impulsiva, agressiva e mais instável tenderá a criar conflito ao trazer para a sua família um parceiro com grande probabilidade de gerar mais um polo de contraste.
Como um relacionamento amoroso iniciado na terceira idade difere dos que se dão em outras fases da vida?
Tendo em mente que cada caso é um caso e que estamos apenas delineando regras gerais, vamos supor que estejamos falando de pessoas de aproximadamente a mesma idade, saudáveis e de bem consigo mesmas, abertas para um novo relacionamento:
Será um relacionamento mais leve e gratificante do que na juventude, porque ambos sentir-se-ão livres para viver aquilo que têm para dar e receber, não estarão se frustrando com expectativas ilusórias nem cobranças descabidas porque já aprenderam que o outro é diferente, é novo e não é capaz de corresponder aos nossos ideais. Portanto, tem consciência do seu momento e estão muito mais preparados para serem felizes e se apaixonar enxergando o outro como é de verdade e não como gostaria que ele fosse. Também têm mais habilidade para preservar suas preferências pessoais impedindo excesso de interferência em suas decisões e invasão excessiva.
É muito importante ter em mente que envelhecer é um processo, não uma condição ou uma “fase terminal”. Cada pessoa envelhece a seu modo e continua sendo uma pessoa única, com esta ou aquela idade acima dos 60 anos. Portanto, a figura de idoso é uma caricatura que exclui a complexidade e singularidade de cada ser humano.
Vale destacar também que o processo de envelhecimento que estamos assistindo hoje passa por grandes transformações, inéditas em nossa história. Hoje pode-se planejar o próprio envelhecimento de modo a influenciar a sua evolução, eliminando ou contornando eficientemente algumas complicações de saúde, com vistas a um envelhecimento ativo e saudável.
Fonte: http://mariuzapregnolato.com.br