Dados do IBGE apontam que a separação de casais com mais de sessenta anos vem aumentando. Os números não são tão recentes, mas na prática, profissionais ligados às pessoas idosas atualmente confirmam esta tendência. Entre homens, o número de pedidos de divórcio entre 2003 e 2006 aumentou 27,8% (de 9.949 casos para 12.719). Entre as mulheres, os pedidos aumentaram 29,3 % (de 5.805 para 7.506) para o mesmo período.
Segundo a médica geriatra Luciana Pricoli Vilela, não é possível dar uma explicação única a este fenômeno. As separações na terceira idade ocorrem por diversos motivos. "Porém algumas questões podem ser levantadas: muitos casais mantinham (e ainda mantém) um estilo de convivência em que o papel da mulher é de submissão. Assim para elas a separação é encarada como libertação".
Mas não é só. "Sem dúvidas a expectativa de vida maior é um fator que faz com que muitas pessoas vejam a vida não mais como um final aos 60 ou 70 anos, mas como um período ainda com alguns lustros pela frente. Assim, quando chegam ao momento em que têm seus filhos criados e sua atuação profissional conquistada, enveredam por outros desejos não satisfeitos".
Recém-lançado pela editora Rocco, o livro ‘Começar de Novo’, assinado por Deirdre Bair, relata inúmeros casos de casais idosos que optaram pelo divórcio. São mais de 400 entrevistas que a autora fez com homens e mulheres de 60 anos ou mais que decidiram acabar com seus casamentos de décadas. Várias lembranças contadas parecem dolorosas, mas muitos divorciados mostram-se felizes e aliviados pela separação, já que teriam redescoberto uma vida independente e o abandono de um relacionamento conjugal sem companheirismo.
Um dos relatos do livro, imagine, fala de um casal que se separou depois de 42 anos juntos. Vinte anos após a separação, já na faixa dos 80 anos, ambos foram diagnosticados com Alzheimer. A filha única os acolheu em sua casa. O reencontro foi surpreendente: eles se tornaram companheiros inseparáveis, lamentando não terem se conhecido antes. Não lembravam que haviam sido casados e que chegaram ao fim do casamento sem suportar a presença um do outro.
Sexualidade
Mesmo com uma maior clareza em relação à sexualidade na terceira idade, Dra. Luciana Pricoli Vilela diz que não é somente isso o que os idosos buscam nos relacionamentos. "A maioria das pessoas busca afeto, companhia, compreensão".
Fisicamente e psicologicamente, claro, a mudança provocada pelo divórcio pode ser para melhor ou para pior. "Há pessoas que apresentam melhor qualidade de vida quando sozinhas do que quando acompanhadas, dependendo do tipo de relacionamento do casal. E há também muitos casos de pessoas que pioram a qualidade de vida quando se separam", diz a médica.
Segundo ela, o desafio de iniciar um novo relacionamento após o divórcio não é o objetivo de muitos idosos. "Vários optam por não se casarem novamente e ficam muito bem assim. Pode ser a ocasião para que se dediquem a outras atividades que antes estavam impedidos pela situação conflituosa em que viviam. Os novos relacionamentos trazem algumas vantagens, mas também estresse emocional".